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Chris Jagger reviews the Stones (In Portuguese)
Posted by: Riffbuk ()
Date: June 22, 2006 12:01

[blitz.aeiou.pt]

É só Rock N Roll E porque não?

Por que é que estes tipos continuam? Porque é que não estão em casa sossegados? Não terão já dinheiro que chegue? Não somos só nós a perguntar. É o próprio irmão de Mick Jagger, Christopher, quem procura um sentido para a longa vida dos Rolling Stones.





Quando o meu irmão me levou a ver a sua banda em Londres (não digam a ninguém, mas deve ter sido em 1963), fiquei muito curioso sobre como iriam transpor para o palco todos aqueles discos que eu tantas vezes ouvira. Jimmy Reed, Muddy Waters e Chuck Berry: quase todos tinham vindo de Chicago, que ainda era bem longe de Dartford. A sala de concertos chamava-se The Scene (a própria palavra era enigmática na altura) e a banda de abertura entrou e saiu sem me entusiasmar por aí além. A multidão das quartas-feiras tinha vindo ver o Mick e companhia – e o nível de energia subiu naquele pequeno palco à medida que o Brian, o Mick e o Keith se embrenharam nas suas tarefas. Fiquei muito impressionado e, com os meus 15 anos (que correspondem hoje a uns 12), senti-me mais crescido. Mal me tinha apercebido de que já tinha apanhado o vício.
Voltei a sentir a mesma camaradagem dessa altura quando entrei na Escola de Greenwood, em Toronto, 40 anos depois, e fui recebido pelo Ronnie Wood, que pôs o braço à minha volta e me levou escada acima até ao sítio onde a banda estava a ensaiar. Senti que podia ter acabado de sair do autocarro 22… No fundo, estes tipos não cresceram. Parece que já oiço os comentários descontentes vindos de Tunbridge Wells: «como é que eles se atrevem a tocar aquela maluqueira rock’n’roll já depois dos 60 anos?». Mas a verdade é que eles continuam a escolher óptimo material; vocês não iriam querer ouvir os Dave Clarke Five 40 anos depois.
À pergunta «o que fazes aqui?», respondi ao Ronnie que já tinha planeado uma viagem ao Canadá antes deles e que esta era apenas uma paragem a caminho de Yellowknife. Mas sorri e todos sorriram. Não havia olhares sombrios nesta equipa de características bizantinas, em que cada homem tem a sua função – ao contrário daquele primeiro concerto a que assisti, em que só o «Stu» tinha de carregar o equipamento e conduzir a carrinha (e tocar piano, claro).


Hoje são os roadies – perdão, os técnicos de guitarras, que rodam as cravelhas e afinam as guitarras, arrumadas como espingardas em expositores de veludo, prontas a entrar em acção. Para o Sir, há Telecasters vintage em cores pálidas, marca registada de Keith Richards, enquanto as de cores mais brilhantes e espalhafatosas pertencem ao miúdo novo, Ron Wood. O senhor Jagger tem a sua própria selecção acústica e eléctrica, como se fossem acessórios para o crime. O som destes instrumentos é processado por amplificadores vintage e delays adequados, controlados por engenheiros de som entusiasmados, que me mostram o equipamento como se fossem miúdos orgulhosos do seu novo comboio eléctrico. Nesta era da tecnologia digital, é reconfortante ver aquelas válvulas a brilhar no escuro.

O futuro dita longos meses na estrada, concertos barulhentos, dias encurralados em suites de hotéis com fãs e amigos à espera para os cumprimentar; é um carrossel de proporções épicas capaz de deixar de rastos o mais bravo dos exércitos. E, para mais, eles sentem falta do críquete.
Mas porque é que estes tipos continuam? Porque é que não voltaram às suas terras-natal para criar bezerros ou fabricar a sua própria cerveja? Não terão já dinheiro suficiente? Talvez o nome da banda nos dê uma pista, talvez seja um estilo de vida que se auto-perpetua.
O Keith contou-me que recebeu uma chamada do Mick, seis meses depois do final da digressão anterior, a indagar sobre algumas canções: «e que tal se fizéssemos…? Quando é que nos juntamos outra vez?...». Desta vez, com Charlie Watts a receber tratamento a um cancro na garganta, a situação era radicalmente diferente. Mas a ausência na secção rítmica foi colmatada pelo Mick, que se divertiu a tocar bateria e baixo. O Keith veio da sua velha casa em Chichester até à casa do Mick, em Loire, e começaram a trabalhar numa pequena capela transformada em estúdio – o Keith, que é um pouco nómada, adorou. Finalmente, o Charlie teve alta e chegou pouco depois para «rebentar com a bateria, talvez para provar alguma coisa», como disse o Keith. O Mick acrescentou: «quando se trata das tuas próprias canções, das canções que tu criaste, sabes melhor que ninguém como devem ser tocadas e o que é que resulta ou não. Toquei bateria na maqueta, mas pouco se aproveitou. E também fiz alguns loops com partes de bateria, algo que tenho feito habitualmente com a tecnologia disponível». Chris Jagger


O irmão de Mick gravou vários discos – o último, Act of Faith, vai ser editado este ano.

Entre as décadas de 70 e 90, enveredou pelo jornalismo e escreveu sobre música e outros assuntos para publicações como a Rolling Stone e The Guardian.

Entretanto, colaborou com os Stones nos álbuns Dirty Work e Steel Wheels.

E – ele, sim – vive no campo e dedica-se à agricultura e à criação de animais.





Já sabia disto, desde que me cruzei com ele nos estúdios da Island, em Notting Hill, durante a gravação da maqueta. Aliás, aproveitei esse encontro para lhe propor um dueto no meu disco, que acabou por resultar muito bem. Quando éramos novos, éramos fãs dos Everly Brothers – e sempre gostei de harmonias em família, apesar de não ser muito habitual neste país.
Penso que o papel do líder de uma banda se assemelha ao do bobo da corte: ele está lá para divertir e entreter, por isso convém que seja um homem-dos-sete-instrumentos. «E que tenha uma boa voz?...», oiço-vos sussurrar. «Ao primeiro sinal disso, estão fora!» foi uma das frases célebres de Peter Sellers – e tinha razão! Uma boa selecção de material e uma boa interpretação são provavelmente mais importantes. «Só os músicos é que acham que um espectáculo é um concerto musical. Mas, feliz ou infelizmente, não se trata apenas de ver dedos a deslizar no braço de uma guitarra – é uma experiência colectiva, de comunhão. E, claro, também convém tocar bem», diz o Mick.
Agitar a multidão é, só por si, um feito – e ele tem a sua maneira muito própria de o fazer. Acho que herdou isso da nossa mãe, que era muito baixinha e adorava dançar. Questionei o Mick sobre os tempos de juventude, quando os miúdos borbulhentos que queriam engatar miúdas tinham de as convidar para dançar – uma barreira que muitos não conseguiam ultrapassar. Fiquei a saber que ele tinha frequentado o Crayford Youth Club «onde se aprendia a dançar valsa, quickstep, foxtrot e polka. Tirando a valsa, todas as danças eram muito complicadas. Mas dançava com as miúdas todas, porque era uma “aula” e não apenas um evento social. O mais divertido era a “square dance”. A primeira dança que a mãe me ensinou foi o Charleston, depois talvez o jive ou o jitterbug – hoje, chamam-lhe swing. Na altura em que o rock’n’roll apareceu, a mãe dizia [imitando a voz]: “isto é tal e qual como nós dançávamos”. E era. Lembro-me que costumava haver avisos nos salões de dança a dizer: “é proibido dançar o jive”… acho que tinham medo dos Teddy Boys. Claro que essa ainda era uma dança de pares – o twist foi a primeira dança em que as pessoas não se tocavam». (Então e o cha-cha-cha?) Perguntei- -lhe onde é que ele tinha aprendido os melhores passos e ele contou-me que tinha sido num clube adequadamente chamado “The Roaring Twenties”, em Saville Row». Era um clube jamaicano onde se tocava um protótipo do groove do Blue Beat (ska). Também costumava dançar no «The Railway», em Richmond, frequentados pelos mods. Costumava lá estar um tipo enorme e desengonçado chamado Clive, que o Eric (Clapton) conhecia bem – todas as semanas, ele fazia um passo novo e eu ficava a ver para depois o praticar». (…)
Falei-lhe de James Brown, que era tão famoso naquela época, nos inícios da década de 60. «Também tentava copiar-lhe os movimentos, mas era muito difícil.
Coimbra 2004
Vi-o pela primeira vez com o Keith, no Apollo, em Nova Iorque, em 1964. Éramos os únicos brancos na plateia, mas fomos muito bem tratados. Ninguém sabia o que estávamos ali a fazer – a apanhar uns passos de dança! Mas ele não era o único, havia também o Joe Tex, por exemplo. O Prince aprendeu alguns passos com ele, como aquele em que atira o microfone para a frente, ajoelha-se e volta a apanhá-lo – e, se não tem cuidado, leva com o microfone na cara e dá um trambolhão em palco». E o lendário «Reet Petite» Jackie Wilson? «Sim, ele costumava fazer mortais em palco. Mas também andámos na estrada com grupos que tinham passos de dança furiosos, como os Contours. Ainda hoje aprendo uns passos quando saio para dançar. E tenho um instrutor chamado Stephen: eu danço e ele vai anotando cada passo para depois definirmos o passo seguinte. E ensina-me outros, que acabo por reproduzir à minha maneira. Se não treinares, não consegues repetir os passos dos outros… eu nem sequer me lembro dos meus próprios movimentos».
De volta ao hall da escola – que está cheio de painéis enormes que o Ronnie Wood preencheu com títulos de canções e outras sugestões –, a banda começa a tocar de modo descontraído mas determinado, percorrendo uma série de canções, umas «definitivas» outras «possíveis» de ser tocadas um dia, se o ambiente o proporcionar. Surgem velhas versões, sempre boas para uma pausa no seu próprio material – e nesta categoria encaixa-se uma velha favorita, «Mr Pitiful» [de Otis Redding] , que agrada à secção de metais porque lhes permite tocar mais. De certa forma, estes temas aparecem como uma homenagem a antigos viajantes que já não estão entre nós, mas cujo espírito prevalece. Como «Lively Up Yourself», de Bob Marley. E, após a sua longa estada na Jamaica, Keith está apto a apanhar o groove, o que não é fácil no meio daquele alinhamento. Recordo o Keith do dia em que ele me levou a ver os Wailers pela primeira vez, no Speakeasy, um pequeno mas importante buraco húmido na Margaret Street, perto de Regent Street, onde roadies e estrelas de rock se misturavam com os artistas locais.

Ron Wood, 30 anos mais novo do que as primeiras Converse All Star.
Não fuma perto de Jagger 'por causa da voz dele'
Fotos: Steven Klein
A banda toca também canções do novo álbum e é bom ouvi-las pela primeira vez. Ao ouvir «Neo Con», pergunto-lhes se será possível «enquadrar o círculo» entre os fundamentalistas muçulmanos e católicos. «Têm coisas em comum: a exclusão é uma delas. E têm políticas exclusivas nos seus conselhos ecuménicos. Lembro-me então de uma música chamada «Highwire», que a banda gravou durante a primeira guerra no Iraque, travada pelo senhor Bush sénior. Contribuí com alguns versos e sugestões. O mote da canção era o facto de esses conflitos serem alimentados pelo tráfico de armas, de haver quem ganhe dinheiro a fornecer armas a ambos os lados. E agora, neste disco, há uma referência à política de Bush júnior em «Neo Con» – pode não mudar o mundo, mas é uma opinião.
Menciono a última cimeira do G8 e o esforço de alguns músicos para mudar as coisas. «Apoio o Bob [Geldof] e o Bono, e espero que algo se resolva já que os políticos costumam prometer mas não cumprir. O Bono tentou envolver-me na questão do “abandono da dívida” mas, apesar de parecer simples, trata-se de uma questão económica muito complexa. O problema é que estes países são muito pobres e o “abandono da dívida” é apenas um pormenor. Não sei até que ponto é que pode efectivamente ajudá-los. É óbvio que gostaríamos de aliviá-los, principalmente os casos mais graves, mas a questão do longo prazo impõe-se. Estamos todos fartos das constantes ajudas a curto prazo – apesar de serem essenciais no combate à fome, por exemplo. Mas as ajudas a curto prazo resolveram pouca coisa nos últimos 40 ou 50 anos. Damos tão pouco do nosso produto interno bruto, que nunca é suficiente. É preciso muita coragem para combater este problema, é uma estrada longa e difícil».
A morte de Brian Jones
Não é um filme sobre os Rolling Stones, não é uma biografia de Brian Jones Stoned – Anos Loucos, de Stephen Woolley, dirige-se aos fãs que ainda acreditam que o fundador dos Stones foi morto por um empreiteiro invejoso.



A verdade dos factos é muito mais desfocada do que o filme pretende revelar: no dia 7 de Julho de 1969, Brian Jones foi encontrado morto na piscina da sua casa, afogado depois de um cocktail de álcool e drogas. Dizia-se que era um excelente nadador mas que tinha asma; que consumia drogas mas que eram legalmente prescritas pelo médico; que estava ébrio ou que só tinha bebido o equivalente a meia dúzia de cervejas; que já não gostava de viver desde que tinha sido corrido dos Rolling Stones por Mick Jagger e Keith Richards – mas também que estava na sua fase mais produtiva a solo.

Depois da morte prematura, aos 27 anos, disse-se tanta coisa que o realizador Stephen Woolley e os argumentistas Neil Purvis e Robert Wade demoraram dez anos a concretizar Stoned. E optaram pela teoria com maior potencial cinematográfico: a do homicídio. Não foi o mordomo que o matou, como nos clássico policiais, mas quase – foi um empreiteiro chamado Frank Thorogood, contratado para fazer obras na magnífica mansão do músico, outrora propriedade de AA Milne, criador do Ursinho Puff.

Quais as razões para o crime? Salários em atraso e uma doentia inveja da vida de sexo, drogas e rock’n’roll do músico. Que provas? Uma confissão – que ninguém viu – assinada pelo construtor antes de morrer.

Ao basearem-se nessa conspiração, os autores de Stoned esquecem-se que estão a fazer cinema e apresentam uma especulação histórica em forma documento inquestionável. E essa pretensão acaba por retirar-lhes toda a credibilidade.
Ana Markl






Tento dar uma volta, mas encontro tanta gente conhecida que demoro algum tempo. Estão todos muito ocupados, claro, mas felizes por estarem a preparar uma nova viagem. Está cá o Chuck Leavell, o pianista que é membro da banda apesar de não aparecer nas fotos «oficiais». Ele ajudou a fazer a lista de canções, vasculhou o catálogo antigo e está sempre em contacto com o Ian Stewart («Stu») e o Nick Hopkins, que tocou em clássicos como o «Angie», «Waiting on a Friend» e «She’s a Rainbow», já para não falar no seu trabalho com os Horrible Who. Quando tinha apenas 19 anos, gravou o clássico «Jessica» com os Allman Brothers, que alguns devem conhecer de um certo anúncio de automóveis. O Chuck sugeriu que o Mick e o Keith tocassem juntos «As Tears Go By» – quero ver isso!
Há ainda o Bobby Keys, o saxofonista de Lubbock, Texas, que se fez à estrada aos 15 anos com Bobby Vee, e conheceu os Stones num concerto que deram no Texas com a lenda do country George Jones. O Bobby vivia em frente ao Buddy Holly e fazia-lhe recados enquanto ele ensaiava na sua garagem! Ele toca com os Stones desde «Sticky Fingers», por isso já é da família. Lisa Fisher passeia-se com as suas longas pernas e aquece a garganta enquanto a secção de metais pratica os próximos arranjos. Depois há a secção de guarda-roupa, que funciona como uma mãe que lhes diz o que usar, que engoma e cose, enquanto alguém lhes corta o cabelo cada vez mais escasso. Acrescente--se a tudo isto as mesas de mistura, todo o equipamento, o catering, assistentes pessoais e assistentes de palco, apoio online, planeamento… E obtém-se uma verdadeira operação militar, que acaba por girar em torno da figura franzina do meu irmão. Se ele não gostasse disto, que sentido faria?
Ele está ocupado, por isso dou um salto até ao camarim do Ron Wood, decorado com panos negros, fotos e bibelots. Ele acende um cigarro e confessa que retirou o penso de nicotina para a ocasião. «Não fumaria ao pé do Mick, por causa da voz», diz, como se o Mick fosse o reitor da escola e ele tivesse medo de levar umas reguadas. São de facto uns rapazes mal comportados. Mas os tempos de escola já foram há muito. Pergunto ao Mick se há vantagens em envelhecer: «Nenhumas», é a sua resposta lacónica. Consigo lembrar-me de uma: dás-te melhor com o teu irmão, sentes-te mais descontraído quando estão juntos, lidas melhor com qualquer situação e lês os seus pensamentos.
Na sala ao lado, converso sobre muita coisa com o Mick e o Keith, tempos passados, crimes passados. O Keith fica surpreendido quando lhe digo que me lembro do seu avô a tocar guitarra com ele, há muitas luas, depois de um concerto algures em Londres. É uma boa memória. As nossas mães eram amigas, por isso os nossos laços são muito fortes.
De regresso à sala de ensaios, há uma outra surpresa: a banda está a tocar o velho tema de Ray Charles «Lonely Avenue». Saio para a noite quente de Toronto com a música na cabeça, sabendo que os concertos vão ser fantásticos e que acabarei por apanhar algum mais tarde.
Vou para o campo, para Winnipeg, Yellowknife e mais além, longe das cidades e dos riffs de guitarra – mas foi uma bela paragem. De regresso a casa, algum tempo depois, envio uma mensagem ao Mick a perguntar-lhe: «Vais ao críquete?», já que é dia de jogo no The Oval. Ele responde: «OK, vemo-nos na porta principal». Isso é que era bom – não consegui arranjar bilhete.


Cristopher Jagger Planet Syndication , ontem às 18:24



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Re: Chris Jagger reviews the Stones (In Portuguese)
Posted by: Riffbuk ()
Date: June 22, 2006 12:04

And another article about the Stones in the same magazine...about the year of 1969 and the Stones
[blitz.aeiou.pt]

1969: O Ano Em Que O Rock Morreu


Nunca é demais recordar aquele que é considerado o capítulo áureo da história dos Rolling Stones. Entre 1967 e 1969, surge o período que correspondeu à idade do armário da "youth culture" que começara a desabrochar nos anos 50.





Contestação, revolução e um cocktail explosivo composto por optimismo ingénuo e individualismo titânico foram alguns dos efeitos secundários que se fizeram notar nestes anos radiosamente adolescentes. É natural, então, perceber a razão por que o espírito que se ouve e se sente na música deste período não foi fácil nem espontaneamente reproduzido nos tempos que se seguiram. No Reino Unido e nos Estados Unidos da América, a vibração criativa era de tal forma intensa, que todos os géneros musicais passaram por momentos áureos (desde a soul à pop, passando pelo blues até ao jazz). Mas foi o rock, na sua expressão mais nuclear, o veículo escolhido para melhor ilustrar o «esprit du temp». Apesar de existirem variantes dentro do género (desde o roots rock ao psicadelismo), o rock sempre se manteve coeso e fiel, não só aos ensinamentos do blues e ao respeito pelas raízes, como também a um forte compromisso artístico-estético e social. Assim sendo, havia uma relação muito mais directa entre o índice de sucesso dos artistas e de grupos – como os Rolling Stones – e a produção de uma música democrática (acessível a todos e por todos apreciada) e de qualidade indiscutível. Já o conceito de mainstream que hoje se utiliza, no sentido mais pejorativo, só começa a impor-se na década de 70, altura em que o rock e a indústria começam a unir forças, desfragmentando este género musical no maior número possível de subgéneros de forma a justificar a criação do maior número possível de nichos de mercado e consumidores-alvo. «Rock sells out».
Os Rolling Stones foram, possivelmente, o grupo mais equilibrado em termos de popularidade, impacto cultural e inovação artística neste período. Por esta razão, foram também o grupo que melhor retratou todo o caminho através do qual, em ritmo de valsa lenta, o rock, como expressão artística una, válida e vertiginosamente criativa se foi transformando num produto comercializável. Todo este processo foi imortalizado não só através da música (em álbuns como Their Satanic Majesties Request, Beggars’ Banquet e Let It Bleed), mas também através de imagens em movimento (como é o caso de Gimme Shelter, Stones in the Park e Invocation of my Demon Brother).

Quando eles eram feiticeiros de Oz

Em 1967, os Rolling Stones lançaram aquele que viria a ser o seu álbum mais ambicioso e, talvez por isso, o que mais dividiu as opiniões da crítica e dos fãs. Rompendo de vez com a tradição r&b que, de uma maneira ou de outra, sempre os acompanhara ao longo da carreira, é em Their Satanic Majesties Request que a sonoridade dos Stones mergulha em pleno na experiência e no imaginário psicadélico. Brian Jones


Foi o membro dos Stones que mais curiosidade nutriu pelas sonoridades do mundo, pelas viagens através de tempos e de culturas diferentes e pelo recurso ao estúdio como chave-mestra que abria portas para a recuperação de vivências na produção de música nova e inovadora. Jones simbolizava também o ideal da 'flower-child' boémia, viajada, ecléctica, aberta a todo o tipo de experimentação terrena ou transcendental.


Their Satanic Majesties Request é a primeira gravação em que a hegemonia Mick Jagger/Keith Richard se dissolve, dando lugar não só à única composição e respectiva interpretação vocal de Bill Wyman (em «In Another Land», um «time-warp» no qual um cravo se encontra com um vocoder), mas também – e sobretudo – às viagens e experimentações em estúdio por parte de Brian Jones. Os melhores momentos do álbum vivem da contaminação da fórmula rock’n’roll por elementos estranhos e longínquos, como acontece no blues de «2000 Light Years From Home», afogado em sintetizadores e mellotrons de forma a construir uma atmosfera «estrangeira», desconhecida e incómoda.
Talvez por isso se compreenda a razão por que Their Satanic Majesties Request é injustamente visto por alguns críticos como um concentrado medíocre de todos os clichés dos «loucos» anos 60 (centrados na personalidade e no génio artístico de Jones), para não falar naqueles que – erradamente – vêem este álbum como uma retaliação estrategicamente «forçada» dos Stones aos lançamentos de Sgt Pepper’s Lonely Hearts Club Band, dos Beatles, e de Pet Sounds, dos Beach Boys.
O que provocou, então, o retorno abrupto dos Rolling Stones à América? No espaço de um ano, os Stones trocaram sintetizadores e surrealismo por guitarras acústicas e hinos de intervenção, substituíram as viagens pela mente por doses cruas de realidade e rejeitaram imagens floreadas de Oz em prol de um WC.
Apesar de, ao longo da sua carreira, terem sempre deixado transparecer a influência do rhythm’n’blues, nunca o mergulho na América e nas raízes musicais que dela nasceram fora tão assumido como neste álbum.
O génio de Beggars’ Banquet reside na sua profundidade temática. Longe dos devaneios psicadélicos (e algo fúteis e desorientados) de Their Satanic Majesties Request, os Stones regressam à terra e cantam a natureza dual da vida e da humanidade: Deus e o Diabo, amor e ódio, sofrimento e êxtase. O hino gospel «Salt of the Earth» encerra um álbum que abre com seis minutos de celebração satânica («Sympathy for the Devil»); o lamento country de coração partido em «No Expectations» convive com o blues erótico de «Parachute Woman»; há ainda espaço para revolução e contestação política (ou não estivéssemos em 1968) em «Street Fighting Man», assim como para a homenagem sentida às raízes do rock’n’roll, com a versão do tradicional «Prodigal Son». Beggars’ Banquet é um álbum que nos remete novamente para o paralelismo entre o período romântico e o final da década de 60: o homem e a sua a re-ligação com a Natureza e o Transcendente, bem como os conflitos internos e morais que advêm desta «soul searching», foram temas extensivamente abordados (e cantados) em ambas as épocas. Blake, Shelley e Byron são substituídos por Jagger, Sly e Dylan, mas foi o líder dos Rolling Stones quem, indiscutivelmente, melhor representou o espírito renovado do anti-herói romântico (um rebelde mitificado, na tradição do anjo caído Lúcifer ou de Prometeu, o homem que ousou roubar o fogo dos deuses) e quem melhor ilustrou a frase «every man is a star», de Aleister Crowley.
Ao agrupar os álbuns Their Satanic Majesties Request, Beggars’ Banquet e Let It Bleed numa trilogia de Futuro/Passado/ Presente (respectivamente), compreende--se melhor a importância do papel dos Rolling Stones na definição do zeitgeist do final da década de 60. Their Satanic Majesties Request representava a quimera psicadélica e cegamente optimista, de um futuro irrealista, colorido a substâncias psicotrópicas (o sonho de um verdadeiro «Summer of Love»); Beggars’ Banquet simbolizava o reencontro com o orgânico, com as raízes e com a natureza bipartida de um ser humano ora sujeito a tentação, ora sedento de redenção; e Let It Bleed foi, possivelmente, o álbum que melhor conseguiu captar o turbilhão espiritual, artístico e cultural que assombrou o encerrar de uma era. Entre outros factores, também o desaparecimento gradual de Brian Jones pode ser interpretado como o primeiro agoiro dos caminhos perigosos pelos quais o rock ia enveredando.

Diabólico, satânico, divinal!

"As Confucian scholar Wang Fu-Chih puts it, “only a man of highest integrity can understand this law; basing itself on its revelation he can grasp the symbols, and observing its small expressions, he can understand the auguries”. In other words, the devil is in the details" . Brottman


4 de Março de 1967
Anton Szandor LaVey, Sacerdote do Satanismo, à porta da primeira Igreja Satânica. Usa capa de seda e camisa com um pentagrama.
É difícil apontar o momento em que os «groovy sixties» se começaram a transfigurar num período estranho e desconcertante. A procura incessante de novas alternativas espirituais ia esgotando-se: após ter provocado um forte impacto no início da década, conquistando intelectuais e estrelas, o misticismo indiano fora completamente adulterado através do aparecimento de falsos gurus e maharishis charlatães. A um ritmo quase diário, novas seitas e pseudo-religiões surgiam com novas respostas e novos deuses (e novas drogas de eleição). Um possível ponto de viragem encontra-se aquando a fundação da Church of Satan, nos Estados Unidos, por Anton Szandor LaVey a 10 de Abril de 1966. O interesse por uma espiritualidade de contornos obscuros já se manifestara sob outras formas, com os Kali Yuga e, em especial, através de um revivalismo dos estudos da magick do britânico Aleister Crawley. Muitas figuras dos panoramas artísticos britânico e americano revelavam um interesse crescente pelos estudos daquele que, na sua época, fora considerado «the wickedest man in the world».
Em Londres, Donald Cammell (actor e realizador do filme Performance, no qual contracenou Mick Jagger), Jimmy Page (guitarrista dos Led Zeppelin) e Anita Pallenberg formavam o núcleo duro de seguidores dos ensinamentos de Crawley. Pallenberg, uma actriz/modelo/boémia italiana de origem aristocrata, envolvera-se com Brian Jones em 1967, mas cedo o deixou para se juntar a Keith Richard. Foi deste modo que os Rolling Stones (e Marianne Faithful, companheira de Mick Jagger na altura) encontraram o seu lugar no nicho esotérico londrino. Se já em Their Satanic Majesties Request se detectava um ligeiro flirt com o esoterismo, é nas letras de Beggars’ Banquet e, em particular, durante as filmagens do espectáculo Rock and Roll Circus (Dezembro de 1968) que já se encontra um Mick Jagger aberta e assumidamente influenciado por correntes satânicas, ostentando tatuagens de máscaras diabólicas durante uma interpretação desalmada de «Sympathy for the Devil».
Em São Francisco, uma das figuras mais carismáticas do underground artístico era Kenneth Anger, um realizador de cinema que há muito nutria um fascínio obsessivo pela obra de Crowley. A obra e o universo do «magus» constituíam o tema central de grande parte das suas peças cinematográficas. Os visionamentos dos filmes de Anger em São Francisco, entre 1965 e 1966, eram habitualmente entrelaçados com experiências psicadélicas: nos programas que acompanhavam as sessões, podia ler-se «...Note: psychadelic researchers preparing for Pleasure Dome [Innauguration of the Pleasure Dome, uma das peças mais brilhantes de Anger] should remain seated during this intermission. The following film should be experienced in that Holy Trance called High…». A primeira ponte entre Kenneth Anger e a cena musical de São Francisco dá-se através de Bobby Beausoleil, um jovem de 19 anos que, em 1966, era guitarrista dos Love. Anger e Beausoleil residiam numa mansão vitoriana em Haight-Ashbury chamada The Russian Embassy e mantiveram juntos um tumultuoso relacionamento amoroso e uma prolífera parceria criativa. Anger escolheu Beausoleil para o papel de Lucifer, no ambicioso projecto Lucifer Rising; mas, em 1967, Beausoleil (que, mais tarde, se viria a envolver na Family de Charles Manson e hoje cumpre prisão perpétua) roubou grande parte do material filmado. Foi este o acontecimento que provocou a deslocação imediata de Kenneth Anger para a Europa.

Hyde Park, 1969
Marianne Faithfull (com o filho Nicholas) e Anita Pallenberg enquanto assistiam ao concerto de entrada livre dos Stones no Hyde Park, em Londres. Dois dias depois da morte de Brian Jones, estima-se que a nova formação dos Rolling Stones, com Mick Taylor em substituição de Jones, tenha conseguido juntar cerca de 200 mil espectadores.
Apesar de ter jurado terminar o seu trabalho como realizador (tendo inclusive publicado um «obituário» no jornal Village Voice), Anger conseguiu atingir na galeria de Robert Fraser, em Londres, «... uma enorme influência, numa convergência decadente de música rock, arte e psicadélia...». Através de Fraser, travou conhecimento com os Rolling Stones e com Jimmy Page e foi assim que «…nasceu uma estética de rock decadente, através da combinação de raiva e descontentamento, tradições dionisíacas e shamânicas, Decadência e Dada, que poderá encontrar o seu paralelo num contexto literário que inclui de Sade, Lautréamont, Rimbaud, Burroughs e Bukowski...». A pedido de Anita Pallenberg, Anger tornou-se numa espécie de «magus» tutelar dos Stones, iniciando-os na magia ritualista. Mick Jagger acabou por produzir a desconcertante banda-sonora (utilizando apenas um Moog) do novo projecto de Kenneth Anger – Invocation of My Demon Brother (1969), composto pelos fragmentos que sobreviveram do projecto inicial, e desaparecido, de Lucifer Rising.
Em apenas 11 minutos, esta peça consegue concentrar toda a tensão (artística, espiritual, sexual e política) que se vivia no final da década de 60. Comprova-se que a inocência e a integridade do rock se encontravam já fragilizadas, esperando apenas pelo golpe final. Perante imagens dos Magick Powerhouse of Oz (o grupo de Bobby Beausoleil em 1967), é fácil ver que algo estava muito errado. Não se trata apenas da iconografia demoníaca presente na música e nas imagens, até porque o rock se cruza com os caminhos do Diabo desde os tempos de Robert Johnson. É verdadeiramente desconcertante a combinação violenta de imagens de Beausoleil, com imagens da guerra no Vietname, com motos e Hell’s Angels, estranhos rituais (com a presença de LaVey e Anger) e imagens de um concerto com a maior banda de rock do mundo. A inclusão dos Rolling Stones neste retrato apocalíptico do final da década de 60 é incontornavelmente pertinente – Anger cultivava um gosto mórbido pelo declínio das grandes estrelas (já publicara, inclusive, o livro Hollywood Babylon, trabalho que retrata a decadência do «star system» na época dourada de Hollywood, entre os anos 20 e 50); e as imagens dos Stones utilizadas em Invocation captam o grupo no chamado «princípio do fim», isto é, no primeiro concerto após a morte de Brian Jones, realizado no Hyde Park em Julho de 1969.

Summer of Love vs. Winter of Hate

"Altamont was supposed to be like Woodstock, only groovier, and their movie would be groovier still. Instead, the Stones got what no one had bargained for: a terrifying snapshot of the sudden collapse of The 60s" . Godfrey Cheshire, in New York Press


Altamont, 1969
Sem se dar por isso, o 'Summer of Love', com o qual associamos cegamente os anos 60, transformou- -se gradualmente num 'Winter of Hate', cujo clímax se verificou num concerto dos Rolling Stones nos arredores de São Francisco, em Altamont, a 6 de Dezembro de 1969.
Sob um ponto de vista astrológico, o ano de 1969 pode representar o signo de Escorpião: o signo da decadência, da luxúria, do mistério, da obscuridão, da tecnologia e da morte espiritual como fim de um ciclo.
1969 foi um ano agridoce para os Stones. Após abandonar o grupo, Brian Jones morreu, em circunstâncias que ainda hoje permanecem por esclarecer. No entanto, os Rolling Stones encontravam-se no pico da criatividade e da popularidade. Lançaram a sua obra-prima, Let It Bleed, um dos álbuns mais representativos do espírito de raiva, desencanto e desespero que se vivia no final da década de 60. A carga simbólica de Let It Bleed é intensa e revela o lugar cimeiro dos Rolling Stones como músicos e ícones culturais. A evolução de «I Can’t Get No Satisfaction» (1965) até «You Can’t Always Get What You Want» (faixa que encerra o álbum) constitui não tanto um processo de maturação, mas mais uma prova do derradeiro desencanto que se fazia sentir: a aceitação da realidade, a rejeição da esperança, a desumanização e o culto do egoísmo (por alguma razão esta faixa foi usada no filme mais representativo da era yuppie, Os Amigos de Alex). Já a estrutura do álbum em si é simbólica: podem dividir-se as nove faixas de Let It Bleed em três conjuntos de três músicas cada, o primeiro representando o respeito pelas raízes e pela tradição americana («Love in Vain»/«Country Honk»/«You Got the Silver»), o segundo – e mais importante – o presente que se vivia como uma bomba-relógio prestes a explodir («Gimme Shelter»/«Midnight Rambler»/«You Can’t Always Get What You Want») e o último constituindo a profecia do rock do futuro, mais duro, dançável, sexual e altamente comercializável («Live With Me»/«Let It Bleed»/«Monkey Man»). À excepção do terrífico «Midnight Rambler» (que conta com um já espectral Brian Jones na percussão), o álbum foi inteiramente gravado com Mick Taylor.
Ironicamente, a primeira vez que Taylor se apresentou ao vivo como novo guitarrista dos Rolling Stones foi no concerto em Hyde Park, a 5 de Julho de 1969, apenas dois dias após a morte de Brian Jones. Este facto remete para uma ideia de sacrifício e de martirização do ícone máximo dos 'flower-children' em nome do novo rock que aí estava para vir. Neste concerto, um dos vários concertos de entrada livre de grande escala a ocorrer em 1969, já se respirava a atmosfera de cinismo e desencanto que viria a sucumbir, meses mais tarde, de uma forma abrupta e violenta em Altamont.
Há quem defenda que os acontecimentos de Altamont só não se verificaram em Hyde Park devido ao cavalheirismo e civismo do público britânico. Mas o rock mereceu honras de tragédia grega e foi exactamente isso que se verificou em Altamont. O Destino (anankê) quis que o rock morresse no local onde nasceu: na América. A ideia da organização relâmpago (mal planeada, sem qualquer previsão controlada das consequências) de um concerto grátis, a «hybris», o erro que conduz os (anti)heróis à violação da ordem estabelecida. A presença impune e irresponsável de Hell’s Angels como força de segurança no concerto e o brutal e cruel assassinato do jovem Meredith Hunter, a catástrofe. O documentário Gimme Shelter, que relata na íntegra a fatídica noite de 6 de Dezembro de 1969, o reconhecimento (anagnórise), no qual vemos os Rolling Stones em pleno processo de assimilação e constatação dos acontecimentos trágicos e fatais.
A organização do concerto de Altamont surge na sequência de críticas, por parte da imprensa americana, de que os Rolling Stones cobravam preços demasiado elevados pelos bilhetes dos seus espectáculos. Numa manobra de marketing (porque os tentáculos da indústria já controlavam a situação), que pretendia também ser uma espécie de compensação destinada aos jovens da costa Oeste dos EUA que não tinham vivido o seu Woodstock, a última data dos Stones em solo americano transfigurou-se num festival grátis que contava também com a presença dos Flying Burrito Brothers, Grateful Dead, Jefferson Airplane, entre outras bandas da Califórnia. Os irmãos Maysles documentavam a digressão dos Rolling Stones nos Estados Unidos; os eventos de Altamont alteraram por completo o teor desse trabalho.
Tudo em Altamont foi simbólico. O facto de os Stones só tocarem depois do anoitecer. Mick Jagger como mestre de cerimónia, ora perguntando (ao jeito de Country Joe MacDonald em Woodstock) «Why are we fighting and what for?», ora desempenhando na perfeição o seu papel de entertainer, ignorando as expressões de terror nas faces dos jovens que eram enxovalhados pelos Hell’s Angels, de forma a que a música pudesse continuar. O cetim vermelho ostentado por Jagger em palco contra o fato verde de Meredith Hunter, para sempre congelado na imagem que isola o segundo antes de ter sido fatalmente esfaqueado. Mas a música já não conseguia respirar em Altamont – e os jovens (simultaneamente guerreiros e mártires do veículo de expressão artística que lhes era consagrado) não conseguiam resistir mais. Quando o documentário dos irmãos Aysles (adequadamente intitulado Gimme Shelter) se aproxima do fim, fica a imagem da migração de milhares de jovens no regresso a casa, no cortejo fúnebre do rock, da década de 60 e dos valores que a caracterizaram.

A morte fica-lhes tão bem

Altamont foi o prego no caixão da década de 60 e da «Love Generation». A corrupção e o desflorar da integridade e dos valores de uma geração contaminou, inevitavelmente, a sua forma de expressão predilecta: o rock. Os Rolling Stones, como o grupo rock mais equilibrado em termos de popularidade e inovação artística, contribuíram para todo este processo de mudança e transformação. O que começara como um conjunto de amigos que se juntara para celebrar o rhythm’n’blues e as sonoridades americanas foi-se transformando, ao longo de uma década, numa instituição cultural de proporções gargantuanas. Após a fragmentação que se começou a verificar na década de 70, o rock nunca mais teve o mesmo peso nem a mesma capacidade de mudança de hábitos, convenções, paixões e ideologias que possuíra nos anos 60. Também a música dos Stones sofreu com esta fragmentação, embora mostrando esporadicamente sinais de vida (Exile on Main Street, Black and Blue, Emotional Rescue) que, até à data, têm vindo a reafirmar a importância do grupo na História da Música.
É também importante compreender que os Rolling Stones não estiveram isolados neste processo de morte lenta do rock. O próprio festival de Woodstock constituíra, meses antes de Altamont, o canto do cisne da «Love Generation». Já se sentia no ar o desânimo e o desencanto do público jovem (carne para canhão para a guerra do Vietname), bem como a saturação criativa dos músicos de folk, blues-rock e rock psicadélico de São Francisco que participaram neste evento, que continua a ser erradamente mitificado por quem insiste num (pre)conceito cor-de-rosa da década de 60.
Os Rolling Stones, mais e melhor do que qualquer grupo ou artista da época, representaram o espírito contestatário, controverso e diabolicamente brilhante que se viveu nos últimos anos do rock. Let It Bleed será sempre uma das poucas obras--primas que soube capturar integralmente o espírito desconcertante e mágico de um tempo que já aceitara o seu fim. Talvez tenha sido o sentimento iminente de finitude e término de uma época (e de uma forma de estar) que concedeu à música dos Stones a sua qualidade perene e incontestável.


Rita Vozone, ontem às 18:15

Re: Chris Jagger reviews the Stones (In Portuguese)
Posted by: Limbostone ()
Date: June 22, 2006 13:00

In Babelfish:


Is alone Rock N Roll and because not? Why it is that these types continue? Because it is that they are not in house sossegados? They will not have already money that arrives? We are not alone to ask. He is the proper brother of Mick Jagger, Christopher, who search a direction for the long life of the Rolling Stones. When my brother took to see me its band in London (they do not say to nobody, but he must have been in 1963), was very curious on as those records would go to transpose for palco all that I as many times hear. Jimmy Reed, Muddy Waters and Chuck Berry: almost all had come of Chicago, that still was well far of Dartford. The room of concerts called The Scene (the proper word was enigmatic in the height) and the band opening entered and left without entusiasmar me for there beyond. The multitude of the Wednesday had come to see the Mick and company - and the energy level went up in that small palco to the measure that the Brian, the Mick and Keith if embrenharam in its tasks. I was very impressed e, with mine more 15 years (that they correspond today to ones 12), I felt grown me. Badly it had apercebido me of that already the vice had apanhado. I came back to feel the same camaraderie of this height when I entered in the School of Greenwood, in Toronto, 40 years later, and was received by the Ronnie Wood, that put the arm to my return and it took me stairs above until the o small farm where the band was to assay. I felt that it could have finished to leave autocarro 22... In the deep one, these types had not grown. It seems that already oiço the commentaries come grumblers of Tunbridge Wells: "as it is that they atrevem themselves to touch that maluqueira rock'n'roll already after the 60 years". But the truth is that they continue to choose excellent material; vocês would not go to want to hear the Dave Clarke Five 40 years later. To the question "what you make here", I answered to the Ronnie that already had gliding a trip to Canada before them and that this age only one stopping the way of Yellowknife. But it smiles and all had smiled. It did not have shady looks in this equips of bizantinas characteristics, where each man in contrast has its function - of that first concert the one that I attended, where the "Stu" only had to load the equipment and to lead carrinha (and to touch piano, clearly). Today they are roadies - pardon, the technician of guitars, that twirl cravelhas and sharpen the guitars, arranged as rifles in velvet expositors, ready to enter in share. For the Sir, it has Telecasters vintage in pale colors, registada mark of Keith Richards, while of more shining and espalhafatosas colors they belong to small the new, Ron Wood. Mr. Jagger has its proper selecção electric acoustics and, as they were themselves accessory for the crime. The sound of these instruments is processed by adequate, controlled amplifiers vintage and delays for enthusiastic engineers of sound, who show the equipment to me as if they were small proud of its new electric convoy. In this age of the digital technology, it is reconfortante to see those valves to shine in the dark one. The said future long months in the road, barulhentos concerts, days enclosed in suites of hotels with fans and friends to the wait to compliment them; it is a carousel of epic ratio capable to leave of tracks bravest of the armies. E, for more, they feel lack of the cricket. But because it is that these types continue? Because it is that they had not come back to its land-Christmas to create year-old calves or to manufacture its proper beer? They will not have already enough money? Perhaps the name of the band in gives a track, perhaps either a style to them of life that if auto-perpetuates. Keith counted that she received a call from the Mick, six months to me after the end of the previous digressão, to inquire on some songs: "and that such if we made...? When he is that in them we join another time... ". Of this time, with Charlie Watts to receive treatment to a cancer in the throat, the situation was radically different. But the absence in the rhythmic section was colmatada by the Mick, that if amused to touch battery and low. Keith came of its old house in Chichester until the a marries of the Mick, in Loire, and had started to work in a small chapel transformed into studio - Keith, who is nómada a little, adored. Finally, the Charlie had high and arrived shortly afterwards "to break with the battery, to perhaps prove some thing", as Keith said. The Mick added: "when one is about your proper songs, of the songs that you created, you know that nobody better as they must be touched and what it is that results or not. I touched battery in the scale model, but little it was used to advantage. E also I made some loops with battery parts, something that I have made habitually with the available technology ". Chris Jagger The brother of Mick recorded some records - the last one, Act of Faith, goes to be edited this year. It enters the decades of 70 and 90, it enveredou for the journalism and it wrote on music and other subjects for publications as the Rolling Stone and The Guardian. However, it collaborated with the Stones in the albums Dirty Work and Steel Wheels. E - it, yes - lives in the field and dedicates agriculture to it and to the creation of animals. Already wise person of this, since that I crossed myself with it in the studios of the Island, Notting Hill, during the writing of the scale model. By the way, I used to advantage this meeting for it to consider one dueto in my record, that finished for resulting very well. When we were new, we were fans of the Everly Brothers - and I always liked harmonias in family, although not to be very habitual in this country. I think that the paper of the leader of a band if is similar to the one of the silly one of the cut: it is there for amusing and entertaining, therefore they convém that it is man-dos-seven-instruments. "and that it has a good voice...", oiço you to whisper. "To the first signal of this, they are it are" célebres of Peter Sellers was one of the phrases - and had reason! A good selecção of material and a good interpretation are probably more important. "the musicians Only are that they find that one espectáculo is a musical concert. But, happy or unhappyly, he does not only treat yourself to see fingers to slide in the arm of a guitar - it is a collective experience, of communion. E, clearly, also convém to touch well ", says the Mick. To agitate the multitude is, alone for itself, a fact - and it has its very proper way to make it. I find that he inherited this of our mother, who was very baixinha and adored to dance. I questioned the Mick on the youth times, when the small borbulhentos that wanted to hook small had of inviting them to dance - a barrier that many did not obtain to exceed. I was to know that it had frequentado the Crayford Youth Club "where if learned to dance waltz, quickstep, foxtrot and polka. Taking off the waltz, all the dances very were complicated. But it danced with the small all, because it was a "lesson" and not only a social event. The most amused he was "square dances". The first dance that the mother taught to me was the Charleston, later perhaps jive or jitterbug - today, they call swing to it. In the height where rock'n'roll appeared, the mother said [ imitating the voice ]: "that is such and which I eat we we danced". E was. I remember that it costumava to have acknowledgments in the dance halls to say: "it is forbidden to dance jive"... I find that they had fear of the Teddy Boys. Clearly that this still was a dance of pairs - twist was the first dance where the people did not touch themselves ". (Then and cha-cha-cha) I asked - it where she is that it had learned the best steps and it he counted to me that had been in a club adequately called "The Roaring Twenties", in Saville Row ". It was a jamaicano club where if she touched an archetype of groove of the Blue Beat (ska). Also she costumava to dance in the "The Railway", in Richmond, frequentados for mods. Costumava to be an enormous and disjointed type there called Clive, that Eric (Clapton) knew well - every week, it made a new step and I was to see I stop later practising ". (...) I said of James Brown to it, who was so famous at that time, in the beginnings of the decade of 60. "Also it tried to copy the movements to it, but it was very difficult. Coimbra 2004 I saw it with Keith for the first time, in the Apollo, New Iorque, 1964. We were the only whites in the plateia, but very we were well treated. Nobody wise person what we were there to make - to apanhar dance steps! But it was not the only one, also had the Joe Tex, for example. The Prince learned some steps with it, as that one where it shoots the onward microphone, it is kneel and it come back to apanhar it - and, if does not have care, leads with the microphone in the face and gives a trambolhão in palco ". E the lendário "Reet Petite" Jackie Wilson? "Yes, it costumava to make mortals in palco. But also we walked in the road with groups that had furious steps of dance, as the Contours. Still today I learn steps when I leave to dance. E I have a called instructor Stephen: I dance and it goes writing down each step stops later defining the following step. E teaches others to me, that I finish for reproducing to my way. If not to train, you do not obtain to repeat the steps of the others... I not even I remember my proper movements ". In return to hall of school - that he is full of enormous panels that the Ronnie Wood filled with headings of songs and other suggestions -, the band starts to touch in relaxed but definitive way, covering a series of songs, "definitive" other "possible ones" of being touched one day, if the environment providing. Old versions, always good appear for a pause in its proper material - and in this category an old favourite person or thing, "Mr Pitiful" is incased [ of Otis Redding ], that it pleases to the metal section because allows them to touch more. Of certain form, these subjects appear as a homage the old travellers who already are not between us, but whose spirit prevails. As "Lively Up Yourself", of Bob Marley. E, after its long sojourn in Jamaica, Keith is apt to apanhar groove, what it is not easy in the way of that alignment. I remember Keith of the day where it took to see me the Wailers for the first time, in the Speakeasy, a small but important wet hole in the Margaret Street, close to Regent Street, where roadies and stars of rock if mixed the local artists. Ron Wood, 30 years new of the one than the first ones Talks All Star. It does not smoke close to Jagger ' because of the voice of it ' Photos: Steven Klein the band also touches songs of the new album and is good ouviz them for the first time. When hearing "Neo Con", I ask to them will be possible "to fit the circle" between the Muslim fundamentalists and catholics. "They have things in common: the exclusion is one of them. E has exclusive politics in its ecuménicos advice. I remember then a called music "Highwire", that the band recorded during the first war in the Iraq, stopped for Mr. Bush senior. I contributed with some verses and suggestions. Mote of the song was the fact of these conflicts to be fed for the traffic of weapons, to have who gains money to supply to weapons to both the sides. E now, in this record, has a reference to the politics of Bush Júnior in "Neo Con" - the world can not move, but it is an opinion. I mention the last cimeira of the G8 and the effort of some musicians to change the things. "Support the Bob [ Geldof ] and the Bono, and I wait that something if decides since the politicians costumam to promise but not to fulfill. The Bono tried to involve me in the question of the "abandonment of the debt" but, although to seem simple, it is about very complex a económica question. The problem is that these countries are very poor and the "abandonment of the debt" is only one detail. I do not know until point is that it can effectively help them. He is obvious that we would like to alliviate them, mainly the cases most serious, but the question of the long stated period is imposed. We are all satiated ones of the constant aids short-term - although to be essential in the combat to the hunger, for example. But the aids short-term had decided little thing in last the 40 or 50 years. We give so little of our gross domestic product, that never is enough. Much courage is necessary to fight this problem, is a long and difficult road ". The death of Brian Jones is not a film on the Rolling Stones, is not a biography of Brian Jones Stoned - Wild Years, of Stephen Woolley, dirige it the fans who still believe that the founder of the Stones was died for an envious contractor. The truth of the facts is not desfocada of that the film intends to disclose: in day 7 of July of 1969, Brian Jones was found died in the swimming pool of its house, drowned after a cocktail of alcohol and drugs. One said that he was an excellent swimmer but that it had asthma; that it consumed drugs but that legally they were prescribed by the doctor; that he was drunkard or that had only drunk the equivalent the half dozen of beers; that already it did not like to live since that had been run of the Rolling Stones for Mick Jagger and Keith Richards - but also that was in its more productive phase the ground. After the premature death, to the 27 years, as much thing was said that the producer Stephen Woolley and the argumentistas Neil Purvis and Robert Wade had delayed ten years to materialize Stoned. E had opted to the theory with cinematographic potential greater: of the homicide. He was not the butler who killed it, as in the classic police, but almost - he was a called contractor Frank Thorogood, contracted to make workmanships in the magnificent mansion of the musician, long ago property of AA Milne, creator of the Ursinho Puff. Which the reasons for the crime? Wages in delay and an unhealthy envy of the sex life, drugs and rock'n'roll of the musician. That tests? A confession - that nobody saw - signed by the constructor before dying. When being based on this conspiracy, the authors of Stoned forget that they are to make cinema and they present a historical speculation in form unquestioned document. E this pretension finishes for removing all to them the credibility. Ana Markl I try to give a return, but meeting as much known people that I delay some time. They are all busy, clearly, but very happy for being to prepare a new trip. It is the Chuck Leavell here, the pianista that is member of the band although not to appear in "the official" photos. It helped to make the list of songs, searched the old catalogue and is always in contact with the Ian Stewart ("Stu") and the Nick Hopkins, that touched in classics as the "Angie", "Waiting on the Friend" and "She's the Rainbow", already not to mention in its work with the Horrible Who. When he had only 19 years, recorded the classic "Jessica" with the Allman Brothers, that some must know of a certain announcement of automobiles. The Chuck suggested that the Mick and Keith touched "the Tears Go By together" - I want to see this! It still has the Bobby Keys, the saxofonista of Lubbock, Texas, that if made to the road to the 15 years with Bobby Vee, and knew the Stones in a concert that had given in the Texas with the legend of country George Jones. The Bobby lived in front to the Buddy Holly and made messages to it while it assayed in its garage! It touches with the Stones since "Sticky Fingers", therefore already he is of the family. Smooth Fisher is walked with its long legs and heats the throat while the metal section practises the next arrangements. Later it has the wardrobe section, that functions as a mother who says to them what to use, that she gums and she sews, while somebody cuts to the hair each scarcer time to them. It adds -- to everything this the tables of mixture, all the equipment, catering, personal assistants and assistants of palco, support online, planning... E gets a true military operation, that finishes for turning around the franzina figure of my brother. If it did not like this, that sensible would make? It is busy, therefore I give to a jump until the o dressing-room of the Ron Wood, decorated with black cloths, photos and bibelots. It lights a cigarette and confesses that he removed I think it of nicotine for the occasion. "he would not smoke to the foot of the Mick, because of the voice", says, as if the Mick was the director of the school and it it had fear to take reguadas. They are of fact youngsters badly held. But the school times already had been have very. I ask to the Mick if it has advantages in aging: "Nenhumas", is its lacónica reply. I obtain to remember to me of one: you give yourself better with your brother, feel yourself more relaxed when they are together, chores better with any situation and you read its thoughts. In the room to the side, I talk on much thing with the Mick and passed Keith, times, last crimes. Keith is surprised when I say that I remember to it its grandfather to touch guitar with it, has many moons, after a concert algures in London. It is a good memory. Our mothers were friends, therefore our bows are very strong. Of return to the room of assays, it has one another surprise: the band is to touch the old subject of Ray Charles "Lonely Avenue". I leave for the hot night of Toronto with music in the head, knowing that the concerts go to be fantastic and that I will finish for apanhar some later. I go for the field, for Winnipeg, Yellowknife and more beyond, far of the cities and riffs of guitar - but it was a beautiful stopping. Of return the house, some time later, sending a message to the Mick to ask to it: "You go to the cricket", since it is day of game in the Oval The. It answers: "OK, we see ourselves in the main door". This is that it was good - I did not obtain to arrange ticket.



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